quarta-feira, 29 de agosto de 2018

USP terá curso de graça para aproximar garotas do 5º ao 9º ano da ciência

Serão 50 vagas - 25 para escolas públicas e 25 para escolas particulares. Seleção será feita por meio de sorteio entre as meninas inscritas.



Universidade de São Paulo (USP) irá sediar um projeto que busca aproximar garotas das seguintes áreas de conhecimento: Oceanografia, Engenharia Elétrica, Astronomia, Neurociências, Microbiologia, Zoologia, Paleontologia, Astrobiologia, Farmacologia e Educação. O "Meninas com Ciência" é um curso direcionado às estudantes do 5º ao 9º anos do Ensino Fundamental, uma iniciativa para criar futuras mulheres cientistas.
"A principal motivação deste "Meninas com Ciência" é mostrar o papel de uma mulher cientista em diferentes áreas de atuação, abrindo os horizontes dessas meninas e humanizando a figura de uma cientista", diz o texto publicado no site da USP.


Como funciona?

O evento será realizado no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo durante cinco sábados: 27 de outubro; 10, 17 e 24 de novembro e 1º de dezembro, das 9h às 17h. As meninas participarão de palestras e/ou aulas práticas com a presença de professoras e pesquisadoras de diferentes áreas da ciência no Brasil.
As inscrições ocorrem até o próximo dia 10 de setembro, pelo site do projeto "Meninas com Ciência". Serão 50 vagas – 25 destinas a escolas particulares e 25 para escolas públicas. A seleção será feita por meio de um sorteio entre as pessoas inscritas.
A primeira edição paulista ocorreu em 2017, na UFSCar. Outras três edições também ocorreram no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Todo o evento será de graça, com almoço incluso. O transporte não será fornecido. Veja todo o cronograma no site.


terça-feira, 28 de agosto de 2018

Conectividade e cultura escolar são barreiras para uso de celular

Pesquisa mostra que só 7% dos alunos têm permissão 
para usar a internet em seus próprios dispositivos


Foto: Getty Images

Por: Marina Lopes, Vinicius de Oliveira, do Porvir

Apesar do uso de internet estar presente na vida crianças e adolescentes, a 8ª edição da pesquisa TIC Educação mostra que apenas 7% dos alunos têm permissão para se conectar pelo celular em sala de aula. Os resultados do levantamento foram divulgados nesta quarta-feira (22) pelo Cetic.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil) e trazem um panorama sobre o uso e a apropriação das tecnologias de informação e comunicação no ensino fundamental e médio.
Realizada entre agosto e dezembro de 2017, a pesquisa avaliou 957 escolas urbanas públicas (exceto federais) e privadas. Nesta edição, foram incluídos ainda dados de escolas rurais a partir de 1.481 entrevistas, com diretores ou responsáveis por instituições de ensino públicas (exceto federais) e privadas, de diferentes modalidades de ensino.
Com o uso crescente de dispositivos móveis para conexão à internet e realização de atividades escolares, Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br, avalia que as instituições, educadores e formuladores de políticas públicas passam a lidar com novas questões. “É um grande desafio sair de um uso isolado e não integrado da tecnologia nos laboratórios [de informática] para se mover para uma situação onde a tecnologia permeia as disciplinas e os ambientes da escola”, avalia.
Apesar de celular servir como um instrumento para a realização de diferentes atividades pedagógicas, como apontou a pesquisa, o gerente do Cetic.br afirma que as políticas públicas também devem adotar estratégias que favorecem o acesso a diferentes equipamentos. Hoje, enquanto 79% das escolas privadas urbanas usam o computador de mesa para se conectar, apenas 46% das instituições públicas têm esse acesso. Quando se tratam de dispositivos que permitem maior mobilidade, esse número ainda cai: 56% das escolas particulares usam tablets para acessar a internet, em contraste com apenas 33% das escolas públicas.

Para 18% dos alunos brasileiros, o celular é o único dispositivo utilizado para o acesso à internet. “Justamente nas classes menos favorecidas e nas escolas públicas este uso restrito ou exclusivo do celular tem implicações sobretudo na questão do desenvolvimento de habilidades digitais mais complexas, que não podem ser realizadas apenas com um celular”, pondera Alexandre.
Entre os professores, o acesso à internet pelo celular é quase universalizado. Mais da metade deles afirmam que usaram o dispositivo para realizar atividades escolares: 69% nas escolas particulares e 53% nas escolas públicas.
Espaços de uso
Um outro movimento identificado pela TIC Educação é o recuo progressivo do acesso à internet em laboratórios de informática. De 76% em 2015, o índice caiu para 65% em 2017. Em bibliotecas, voltou a 43%, após alta em 2016 para 47%. Já na sala de aula, partiu de 43%, em 2015, para 55% no ano seguinte e recuou para 50% nesta pesquisa. Por mais que não tenha aumentado de forma expressiva em outros ambientes, esse declínio no acesso em laboratórios de informática pode sinalizar a defasagem deste formato, que serviu desde o início como porta de entrada para a inclusão digital nas escolas.
“Sim, é um prenúncio de fim de modelo (dos laboratórios de informática atuais). Já havia um dado na pesquisa anterior, sobre mudança no perfil de compra de equipamentos [de desktop] para notebooks e tablets, que demonstrava isso e indicava a mudança da cultura do uso de laboratórios para outra, que coloca a tecnologia nas mãos do professor ou do aluno. Só que isso ainda não aparece em sala de aula”, afirma André Luís Raabe, professor e pesquisador da UNIVALI (Universidade do Vale do Itajaí, em Santa Catarina), onde também coordena o programa de pós-graduação em computação e atua no mestrado e doutorado em educação. Ele também lembra que esse fenômeno pode estar ligado à falta de manutenção e à obsolescência dos equipamentos, que impedem qualquer tipo de uso mais complexo.
Tipos de atividades
No recorte que analisa o tipo de atividade realizada pelo professor com o uso de computador e internet, apenas 40% solicitam resolução de exercícios com apoio da tecnologia, por mais que 95% promovam essa atividade em modo “offline”. Na outra ponta, entre as atividades menos frequentes com apoio da tecnologia estão produção de textos, desenhos ou maquetes (34%), trabalho com jogos educativos (26%) e elaboração de planilhas e gráficos com os alunos (19%).
Uma das novidades no questionário de 2017, o item que trata de atividades realizadas por professores sobre criação de projetos e interação com os alunos demonstra que as escolas ainda estão no estágio de troca de informações e de comunicação, com predomínio de momentos para tirar dúvidas (66%), envio de conteúdo para os alunos (61%), recebimento de trabalhos (53%). Em contraposição, atividades que demandam produção e autoria, como criação de blogs ou de jogos com os alunos, registram índices baixos, 5% e 4%, respectivamente.
De certa forma, além de evidentes dificuldades com infraestrutura, os números refletem as conclusões do estudo “Blended Beyond Borders”, desenvolvido pelo Clayton Christensen Institute (e apoio do Porvir para casos brasileiros), que menciona a formação do professor como obstáculo para a adoção de tecnologia em larga escala nas escolas brasileiras.
Ajuda para lidar com conflitos
Pela primeira vez, a pesquisa TIC Educação também tratou do uso consciente de tecnologia dentro das escolas e as ações de orientação desenvolvidas pelos educadores.
Neste cenário, 40% dos professores que responderam que já ajudaram alunos a lidar com casos de bullying virtual, discriminação, assédio ou disseminação de imagens sem consentimento. Esse número é semelhante entre escolas públicas e privadas, com destaque para os alunos do 5º ano e do 9º ano. A disseminação de imagens sem consentimento e os casos de bullying acontecem justamente na escola, porque é onde estão os amigos e as pessoas do círculo mais próximo dos alunos”, diz Daniela Costa, coordenadora da pesquisa, que destaca o papel importante de professores no apoio aos estudantes.
A maior parte dos professores também afirma ter discutido em sala de aula maneiras para usar debate de forma segura. Cerca 66% deles também declararam oferecer estímulos para seus alunos a conversarem sobre os problemas que eles enfrentam na internet.
Tecnologia nas escolas rurais
Em 2017, a pesquisa também traz dados de escolas localizadas em áreas rurais. Diferente do que acontece nas urbanas, apenas 39% delas têm acesso à internet, sendo que 3% contam com conectividade, mas não possuem computadores em funcionamento. “Entre os motivos apresentados pelos diretores para que não haja acesso à internet nas escolas, nós destacamos a falta de infraestrutura de acesso na região e o alto custo de conexão, dados que também são verificados em outras pesquisas realizadas pelo CGI, como a TIC Domicílios, que foi lançada há pouco tempo”, diz Daniela Costa, coordenadora da pesquisa.
Já nas instituições que estão conectadas, a velocidade ainda é um desafio: 61% das escolas rurais não ultrapassam 2 Mbps de velocidade. Para Fabio Senne, coordenador de projetos do Cetic.br, esses dados refletem uma grande desigualdade de acesso entre escolas urbanas e rurais. “É de fato uma diferença de conectividade que as políticas [públicas] precisam é atacar para que a gente possa efetivamente ter a mesma oportunidade para os estudantes que que vivem em áreas rurais.”
– Veja a opinião de estudantes do Conselho Jovem do Porvir sobre o uso do celular na escola:
Ana Beatriz Motta, 16, Salvador (BA)
“Meu professor de física usa um aplicativo para nos passar atividades e informações. Acho top, ajuda muito. Os alunos que passam por momentos difíceis e ficam ausentes da escola acabam não perdendo as atividades. Também não tem desculpa para falar que não fez porque não veio no dia.”
Anna Júlia Lustosa, 15, Belém (PA)
“Meus professores nunca utilizaram o celular em suas aula. Porém, eu realmente acredito que deveria ser usado. Além de nos abrir um leque de opções, de acordo com cada aula e momento, ainda se tornaria um experiência lúdica, fugindo do tradicional. Tornaria uma aula mais atraente.”
Caio Henrique Santos, 16, Recife (PE)
“Sou um pouco suspeito para falar porque a minha escola tem como base o trabalho com tecnologias digitais. Eu considero que o celular deve ser envolvido nas atividades em sala de aula e usado como ferramenta pedagógica pelos professores, porque é um instrumento que facilita muito tanto a vida deles quanto a nossa. Porém, há uma linha tênue entre a liberdade em usar e a possibilidade de roubar a atenção do estudante. Isso é um fato, mas é melhor a instrução por parte do educador para o uso correto.”
Mariana Lima, 15, Campo Grande (MS)
“Ultimamente meus professores estão usando os celulares em alguns casos. Inclusive, lançaram um aplicativo para marcar as presenças e deixar o aluno ciente sobre o seu desempenho escolar. Durante as aulas ainda é raro o uso de celular, mas ele deveria ser uma ferramenta, algo que ajudaria o docente na hora de explicar os conteúdos. Provas online são uma ótima alternativa para inovação!”
Rafael Paiva, 17, Salvador (BA)
“Na minha escola, o celular nunca foi utilizado em sala de aula, a não ser durante a ocupação. Convidamos uma professora para dar aulas de artes, e ela passou um trabalho sobre tons e cores. Tivemos que tirar fotos de algumas cores presentes no nosso dia a dia. Outro professor convidado também usou o celular como método de avaliação. Ele usou um site para a gente responder perguntas que eram feitas no telão. Infelizmente o celular ainda é tido como “vilão” nas salas de aula. É de extrema importância fazer um debate para a desconstrução desse tabu. O fato é que temos um computador no nosso bolso, que pode ser explorado de diversas formas para o aprendizado, tornando as aulas mais atrativas e participativas.”
Tamires Costa, 18, Porto Alegre (RS)
“NENHUM dos meus professores fez alguma atividade com o uso do celular, mas acredito que ele ajudaria bastante, principalmente com os novos aplicativos e sites que estão desenvolvendo. O uso do celular poderia servir como um bom método de aprendizagem para nós, algo com perguntas e respostas, maneiras fáceis de entender a matéria, resumos e várias analogias para que o aluno se sinta à vontade para aprender. Acredito que a junção entre TI e escola pode sim mudar muita coisa, mudar um ensino todo.”

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Como valorizar a ação do aluno muda a aula para melhor

Professores contam como aulas que valorizam a aprendizagem ativa e investigação ajudam na construção do conhecimento
Por: Beatriz Vichessi


Construir conhecimento é mais que transmitir informações. Investir tempo para refletir sobre a própria prática e reaprender a lecionar é uma iniciativa para realmente fazer a turma se interessar pelas aulas e aprender os conteúdos. “É uma inversão de eixo: o foco passa a ser na construção do conhecimento por meio da investigação. Os alunos são desafiados a levantar hipóteses, construir o conceito. E ao final, o professor faz a sistematização. Assim, eles se tornam protagonistas”, diz Lilian Bacich, assessora pedagógica do Time de Autores NOVA ESCOLA de Ciências.  

Depois de participar da Virada de Autores, Denise Chiconato, professora de Ciências da EE Victor Maida, em Ibitinga (SP), mudou o modo de lecionar. “Aprendi a valorizar a ação dos alunos, deixá-los pesquisar o conteúdo trabalhado”, diz. Em um curso na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, Denise também aprendeu a trabalhar com a metodologia STEM (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, que incentiva a interligação dessas áreas em prol da aprendizagem interdisciplinar e com foco na aplicação prática do aprendizado).

“Logo que voltei ao Brasil já coloquei tudo em prática. Motivei os alunos a trabalhar com protótipos. Fizemos um coletor de água da chuva com materiais descartáveis. Antes, eles pesquisaram na internet informações a respeito”, conta.

       Foto: Getty Images

Estranhamento
Às vezes, a mudança de postura do docente, que passa a valorizar a aprendizagem ativa, mais mão na massa e colocando os estudantes em destaque, causa certo estranhamento. Eles ficam intrigados: por que precisam levantar hipóteses? Por que o professor simplesmente não explica o conteúdo, dá as respostas corretas e pronto? Esse desconforto é saudável e, na maioria das vezes, passageiro. Fabio Henrique Boreli, professor de Ciências EE Dom Barreto, em Campinas (SP), conta que quando começou a trabalhar com metodologias ativas de ensino, os alunos torceram o nariz, mas ele persistiu. “Ao final da aula, eles falaram ter adorado o novo jeito de aprender, que o conteúdo agora fazia sentido para eles”, diz.
Um aluno chamou atenção de Fabio. Depois de passar um semestre indiferente, o garoto mudou de postura, começou a participar, ajudar os colegas e a se divertir nas aulas. “A relação dele com a disciplina mudou. E a minha também depois que aprendi, na Virada de Autores, a trabalhar com planos de aula que valorizam o pensar do aluno”, diz.
André Geraldo Cursino, professor do primeiro ciclo do Ensino Fundamental na EM Padre Zezinho, em Pindamonhangaba (SP), também inverteu o eixo das aulas, deixando os alunos ficarem no centro das atenções, trabalhando de modo colaborativo na resolução de problemas e com atividades que têm relação com o cotidiano. “É um desafio repensar a maneira de ensinar e aprender Matemática, uma disciplina tradicionalmente trabalhada de um jeito metódico. Eu me questionava sobre como manter a turma interessada e ao mesmo tempo promover um esforço produtivo por parte das crianças, de modo a transformar informação em conhecimento”.
A mudança nas aulas de André provocou tanto interesse da turma em aprender matemática que os alunos sempre cobram que ele trabalhe com planos de aula da Nova Escola. O professor também foi convidado a compartilhar sua experiência em sala de aula com colegas da rede de Aparecida, apresentando um curso de formação sobre os planos de aula alinhados à Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Tecnologia
Dar espaço à tecnologia em prol da aprendizagem é outro ponto importante para quem está em busca de aperfeiçoar o jeito de ensinar, colocando os alunos em posição protagonista. “Recuperei a atenção e o interesse da classe durante as aulas depois que aprendi a usar o Google de forma mais eficiente durante a Virada de Autores”, conta Tarcísio Nunes Filgueiras Júnior, instrutor do SENAI/SC, em Brusque (SC).
Uma das utilidades que ele cita é o trabalho e compartilhamento de informações e tarefa em tempo real. Segundo Tarcísio, uma atividade interessante que pode ser proposta aos alunos é fazer uma viagem virtual. “A turma escolhe uma cidade destino para viajar por, pelo menos, três dias. Com o Google Maps eles mapeiam o trajeto, medem as distâncias, caminhos, pontos de paradas, com muita riqueza de detalhes”, sugere o professor. Segundo ele, também é interessante que a viagem seja feita em grupo, assim os alunos precisam fazer uma planilha de gastos com alimentação, hospedagem e transporte. “Em um documento compartilhado devem descrever todo o planejamento, colocar prints do Google Maps, mostrando hotéis e restaurantes que vão frequentar e registrar curiosidades das cidades pelo caminho”, explica.
Ao rever a prática e investir em novidades, como o uso do Google, alunos e professores ganham. Lilian explica que essa mudança é um benefício para a formação deles, que têm a oportunidade de olhar criticamente para o que aprenderam na graduação, questionar se a teoria realmente funciona.
Ao transformar o momento do ensino, valorizando o protagonismo da classe, o professor passa a ficar mais alinhado com a BNCC. Lilian ressalta que o documento chama atenção para competências gerais de argumentação, empatia, pensamento crítico e autoconhecimento. “E isso tem tudo a ver com aprendizagem ativa”, diz ela.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

BRASIL RECEBE MAIOR EVENTO DA MATEMÁTICA MUNDIAL

Mas país fica sem medalha Fields, o prêmio mais importante da disciplina, que vai para Alemanha, Austrália, Itália e Reino Unido

POR BERNARDO ESTEVES




O
s quatro ganhadores da medalha Fields, o prêmio mais importante da matemática, considerado informalmente o equivalente ao Nobel da disciplina, foram anunciados na manhã desta quarta-feira, 1º de agosto, no Rio de Janeiro. Os medalhistas – o australiano Akshay Venkatesh, o italiano Alessio Figalli, o britânico Caucher Birkar e o alemão Peter Scholze – receberam suas medalhas na cerimônia de abertura do Congresso Internacional de Matemáticos (ICM, na sigla em inglês).

Da esquerda para a direita, os vencedores: Venkatesh, Scholze, Figalli, Birkar FOTO: PABLO COSTA/ICM2018


Realizado a cada quatro anos, o evento acontece pela primeira vez num país do hemisfério Sul. Três dias antes do evento, um incêndio provocado por um balão destruiu o telhado de um dos pavilhões do Riocentro, que abriga o congresso. Logo após a cerimônia de abertura, Caucher Birkar notou que a pasta na qual havia guardado sua medalha de ouro, que vale cerca de 15 800 reais, havia sido furtada.
O geômetra alagoano Fernando Codá, que frequentou as listas de favoritos à medalha que circularam antes do congresso, não foi contemplado. O carioca Artur Avila, um especialista em sistemas dinâmicos premiado na última edição do ICM, realizada em Seul em 2014, continua sendo o único latino-americano agraciado com a Fields, e o único ganhador que fez toda sua formação num país em desenvolvimento. Ele também tem nacionalidade francesa.
Por ocasião da medalha conquistada por Avila, piauí publicou uma edição especial que conta a história do prêmio e reconstitui os principais passos da matemática brasileira até a sua principal conquista.
Dois dos medalhistas de 2018 – Caucher Birkar e Peter Scholze – são especialistas na geometria algébrica, ramo da matemática que lança mão de métodos da álgebra para resolver problemas geométricos e vice-versa. “Essa é uma área difícil e que tem tido avanços importantes”, disse Marcelo Viana, organizador do congresso e diretor do Impa, o Instituto de Matemática Pura e Aplicada, no Rio de Janeiro. “Ela merece certamente a proeminência que recebeu nos últimos anos.”

D
entre os medalhistas de 2018, Peter Scholze é o nome menos surpreendente. Onipresente na lista de favoritos à medalha, o alemão entrou no radar dos matemáticos depois de ganhar três medalhas de ouro e uma de prata na olimpíada internacional da disciplina (imo, na sigla em inglês). Sua carreira meteórica ratificou a fama de prodígio: Scholze levou dois anos e meio para concluir a graduação e o mestrado, e tornou-se o mais jovem professor titular de seu país, aos 24 anos, na Universidade de Bonn. Medalhista Fields aos 30, está entre os mais jovens a receber a láurea.

Numa entrevista concedida antes que soubesse o nome dos ganhadores da Fields, Artur Avila citou o nome de Scholze entre os favoritos para a medalha. “Já havia bastante expectativa e especulação em torno dele em 2014”, disse o brasileiro. “Os trabalhos dele tiveram uma propagação muito rápida, e suas ideias já estão sendo usadas por outros matemáticos.” Avila disse que conheceu o alemão em 2014, durante o congresso de Seul, quando foram juntos para uma boate. “Fiz uns vídeos comprometedores dele, dançando e falando bobagem”, brincou Avila, aos risos.
Outro matemático de trajetória precoce na lista de medalhistas deste ano é Ashkay Venkatesh, um cidadão australiano nascido em Nova Déli, na Índia. Medalhista na imo aos 12 anos, Venkatesh entrou na universidade no ano seguinte e concluiu o doutorado aos 20. Atualmente com 36, ele é pesquisador do Instituto de Estudos Avançados em Princeton, nos Estados Unidos. É um especialista na teoria dos números, subárea que já foi apelidada de “rainha das matemáticas”.
A relação de laureados de 2018 inclui ainda outro matemático com passagem pela Olimpíada Internacional de Matemática, o italiano Alessio Figalli. O napolitano de 34 anos atribui à imo seu interesse pela disciplina – antes disso, só queria saber de futebol. Figalli divide seu tempo entre Zurique, na Suíça, onde trabalha como pesquisador do Instituto Federal de Tecnologia (eth), e Durham, na Inglaterra, onde sua esposa – matemática como ele – dá aula.
A lista de medalhistas anunciada no Rio se completa com Caucher Birkar, cidadão britânico de origem curda nascido no Irã. Filho de agricultores, ele se interessou por matemática por influência do irmão mais velho, graduou-se em Teerã e mudou-se para o Reino Unido, onde completou sua formação e vive até hoje – atualmente é professor da Universidade de Cambridge. Aos 40 anos, Birkar torce para que sua Fields sirva de inspiração para o povo curdo. “Espero que essa notícia ponha quem sabe um pequeno sorriso nos lábios dessas 40 milhões de pessoas”, declarou o medalhista num vídeo produzido pela Fundação Simons e pela União Matemática Internacional.

A
pesar da presença de Birkar, nascido e criado no Irã, a lista de medalhistas de 2018 fez pouco para ampliar a diversidade dos ganhadores da Fields – um clube seleto que agora conta com sessenta membros. Os laureados foram, mais uma vez, quatro homens formados nos países desenvolvidos. “Nesse aspecto de fato foi uma premiação menos interessante que a da edição passada”, avaliou Marcelo Viana. Além de Artur Avila, em 2014 a medalha foi concedida pela primeira – e, por enquanto, única – vez a uma mulher, a iraniana Maryam Mirzakhani, morta no ano passado.

“A premiação confirma também que os talentos podem nascer em qualquer lugar, e que os países têm tudo a ganhar em se abrir à importação de cérebros”, continuou Viana. Por outro lado, a escolha dos medalhistas mostra que só tiram proveito desses talentos os países com infraestrutura para absorvê-los em seu sistema de ciência e tecnologia. “É impossível não pensar que o Brasil é particularmente inepto nesse aspecto.”
Resta trabalhar para que o esforço para o estabelecimento da matemática de alto nível no Brasil – no começo do ano o país foi promovido à primeira divisão mundial da disciplina – leve à formação de sucessores para Artur Avila. Fernando Codá por pouco não se tornou o segundo brasileiro a levar a Fields. “O nome dele certamente foi considerado com seriedade”, disse Viana. “Mas a vida continua, e a medalha não é tudo”, continuou. O diretor do Impa lembrou-se da premiação de 1998, a primeira à qual ele assistiu. O matemático russo-germânico Yuri Manin encerrou a cerimônia com um recado aos preteridos: “Se vocês não estão na lista de ganhadores, desfrutem do resto de suas vidas.”




BERNARDO ESTEVES (siga @besteves no Twitter)

Repórter da piauí desde 2010, é autor do livro Domingo é dia de ciência, da Azougue Editorial

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Estreia no canal Futura a 2ª temporada de Destino: Educação – Escolas Inovadoras


Projeto que teve consultoria pedagógica do Porvir apresentará escolas do Brasil e de outros 10 países que se destacam por inovar em diferentes contextos sociais e econômicos

por Vinícius de Oliveira

Sabe aquela série que te surpreende a cada capítulo e faz acreditar que transformar o mundo é possível? Para o Porvir, este é o caso de Destino: Educação – Escolas Inovadoras, que estreia no Canal Futura, dia 16 de agosto. Apoiamos a produção da série sugerindo temas, escolas e prestando consultoria pedagógica para mostrar como 12 instituições de ensino em 11 países diferentes – do Brasil à Indonésia, da Argentina a Israel –  souberam encontrar modelos de educação abertos aos interesses dos alunos e às demandas da sociedade, sem deixar de lado o desenvolvimento integral.
Ao longo de 13 episódios com 52 minutos cada, o público terá contato com temas como inclusão, imigração, igualdade de gênero, conscientização ambiental e como fomentar o desenvolvimento de competências, como criatividade e colaboração. Destino: Educação – Escolas Inovadoras conta com o apoio do Sesi (Serviço Social da Indústria). A produção é da Cinegroup, com direção de Márcio Venturi. As escolas retratadas na nova temporada se localizam em Curitiba e Manaus (Brasil), Rosário (Argentina), Cusco (Peru), Redwood City (EUA), Ottawa (Canadá), Barcelona (Espanha), Pulheim (Alemanha), Hadera (Israel), Vaatsa (Estônia), Sidney (Austrália) e Bali (Indonésia). O último episódio faz um apanhado de todas as experiências.
Na estreia, o episódio apresenta o colégio Waldir Garcia, em Manaus, no Amazonas, que investe em inclusão como um dos seus princípios. O convívio entre alunos imigrantes, com deficiências e de origens étnicas diferentes enriquece o dia a dia nas salas de aula.
Já o episódio dedicado à escola Sesi Internacional, em Curitiba, no Paraná, mostra a aprendizagem dos alunos por meio de oficinas temáticas, que reúnem estudantes de séries diferentes e em que os professores atuam como mediadores do conhecimento, trazendo provocações e perguntas-guia.
Ainda na América do Sul, a série apresenta a metodologia do colégio Pukllasunchis, em Cusco, no Peru, que é baseada em interculturalidade, igualdade de gênero, conscientização ambiental, valores e atitudes. Já em Rosário, na Argentina, o projeto Cidade Educadora promoveu transformações urbanísticas e colocou em prática projetos para criar espaços públicos de convivência, com a aproximação entre educação, saúde e cultura.
A série passa ainda pelo Canadá e traz a Glashan Public School, em Ottawa, que equilibra tecnologia e interação em sua metodologia, de forma a garantir a autenticidade das experiências pessoais dos estudantes, que aprendem sobre suas diferentes origens e a história do país. Já em Redwood City, nos Estados Unidos, a Design Tech School usa o design thinking para solucionar problemas com criatividade, com o objetivo de que os alunos desenvolvam as habilidades do século 21.
Outra instituição visitada é a Green School, em Bali, na Indonésia, que tem arquitetura em formato circular, foca no desenvolvimento sustentável e ensina seus alunos a respeitar a natureza de forma prática e efetiva. O programa chega a Sidney, na Austrália, e mostra a experiência inovadora na ​St. John XXIII Catholic Learning Community​, instituição de ensino que aboliu as salas de aula e integra os alunos por nível de aprendizado em grandes espaços, nos quais professores da mesma disciplina trabalham os conteúdos sob diferentes pontos de vista, unindo a tecnologia à aprendizagem através de projetos.
Na Estônia, por sua vez, a escola Väätsa Põhikool valoriza as brincadeiras no dia a dia e o aprendizado prático, tendo a tecnologia como uma importante aliada em todo o processo educacional. Já em Israel, o programa mostra a Escola Democrática de Hadera, que enxerga a capacidade para tomar decisões, colocando-as como participantes ativas na formação do dia a dia.
Também será apresentada a Geschwister-Scholl-Gymnasium, em Pulheim, na Alemanha, que integra refugiados e crianças com necessidades especiais no processo educacional, com projetos que envolvem disciplinas tradicionais e temas como sustentabilidade e cultura. E a Escola Dels Encants, em Barcelona, na Espanha, que conta com uma arquitetura e ambientes diferentes para facilitar a livre circulação dos alunos e onde as crianças têm autonomia para criar seu próprio itinerário de aprendizado.
Após a exibição, todos os episódios poderão ser conferidos no Futura Play.



sábado, 18 de agosto de 2018

Alunos brasileiros conquistam medalha de prata em torneio internacional de Física

Jovens de 16 e 17 anos garantiram a maior pontuação já obtida pelo País e desbancaram campeões clássicos, como Suécia e Polônia.

Isabela Palhares, O Estado de S.Paulo


SÃO PAULO - Cinco alunos de 16 e 17 anos garantiram ao Brasil a melhor colocação já alcançada no Torneio Internacional de Jovens Físicos, conhecido como a “Copa do Mundo da Física”. Os meninos garantiram a medalha de prata e a maior pontuação já obtida pelo País e ainda desbancaram campeões clássicos da competição, como Suíça, Polônia e Suécia.
"Por poucos pontos não conseguimos uma medalha de ouro. Esses jovens são super bem preparados e trouxeram uma conquista importante para o País. Causou até estranheza para os professores de outros países, que acham que o Brasil só se destaca pelo futebol", conta Ronaldo Fogo, professor responsável pelas aulas especiais de Física do colégio Objetivo.

Torneio de Física
Equipe brasileira alcançou neste ano a melhor pontuação já obtida pelo País Foto: Torneio Internacional de Física

A equipe brasileira contou com três representantes de São Paulo: Gabriel Trigo e Bruno Piazza, do colégio Etapa, e Guilhermo Costa, do colégio Objetivo. Também participaram o estudante Victor Barros, do colégio Ari de Sá, no Ceará, e Vinícius Névoa, do colégio Arena, de Goiás. Eles foram selecionados após a etapa nacional da competição.
O torneio tem um formato diferente das olimpíadas de conhecimento, já que os alunos conhecem os desafios meses antes da competição e precisam apresentar e defender a resolução a qual desenvolveram nos Physics Fights (lutas de física), uma espécie de debate no qual os outros competidores procuram falhas e fazem críticas ao trabalho. Toda a argumentação deve ser em inglês.
Para uma resolução bem consolidada, os alunos precisam pesquisar sobre o tema, fazer experimentos e até mesmo construir protótipos para comprovar a teoria. A exigência na competição é tanta que algumas das resoluções dos competidores já chegaram a ser publicadas em revistas científicas.
Costa, por exemplo, desenvolveu uma pesquisa para comprovar o fenômeno da levitação acústica - fazer um objeto levitar apenas com o som. "Foi um trabalho de meses, pedi assistência para um professor estrangeiro da USP que me ajudou a desenvolver o equipamento necessário", conta o aluno, de 16 anos.
Ele conta que adora realizar os experimentos, mas também gostou muito dos "fights". "É uma oportunidade de discutir os conceitos físicos. Normalmente, em uma prova, você só resolve o problema, não há espaço para essa discussão", diz.
A competição reconhece os vencedores pela soma das notas, eles são avaliados tanto pela apresentação, como quando estão como "oponentes", ou seja apontado as falhas de outras equipes. Receberam medalha de ouro os times de Cingapura, China, Coreia e Alemanha. O Brasil ficou em quinto lugar, com a mais alta pontuação entre os competidores que receberam a medalha de prata.
A conquista, além do reconhecimento pelo trabalho, representa para os meninos uma possibilidade a mais de conseguir ingressar em uma universidade de ponta no exterior. É o que espera Costa, que ainda não sabe qual curso cursar, mas gostaria de estudar no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). "São alunos que sempre gostaram de ciências, se encantaram pela possibilidade de pesquisar e querem ir para fora do País, onde sabem que essa área é valorizada. É uma pena que no Brasil eles não encontrem essa valorização", diz Fogo.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

O que faz cada membro da gestão escolar?

Diretor, vice-diretor, coordenador e orientador pedagógico são 
primordiais para o bom funcionamento da escola.

Por: Naiara Albuquerque




Para uma escola funcionar de maneira organizada, não é só cada um no seu quadrado: os profissionais envolvidos na gestão precisam trabalhar em conjunto, dentro das suas responsabilidades. Diretores, vice-diretores, coordenadores pedagógicos e orientadores educacionais devem trabalhar em conjunto para complementar o trabalho do professor – e garantir o aprendizado do aluno. "Essa organização é para melhorar o desenvolvimento e desempenho de todos os que estão envolvidos nos processos pedagógicos", afirma Márcia Regina Chammas, orientadora educacional há 19 anos na unidade Higienópolis do Colégio Rio Branco. Abaixo, explicamos qual é o papel de cada um dos atores da gestão escolar. Confira:


Diretor, o líder da comunidade
"Orquestrar a administração de um colégio", foi assim que Lucia Seixas, diretora e mantenedora do Colégio Conexão há 28 anos, de Taguatinga, Distrito Federal, define o papel de diretora. Segundo ela, o diretor desempenha múltiplas funções para garantir o aprendizado de seus alunos a partir de uma educação continuada de sua equipe docente. Responsável por administrar uma escola, cuidar das finanças, supervisionar o projeto político-pedagógico (PPP), cuidar da equipe, organizar eventos escolares e envolver a comunidade são algumas das tarefas atribuídas ao diretor.


Vice-diretor, o braço direito
"É uma função que nos dá a responsabilidade de tomar certas decisões e às vezes tem a importância de ser um elo entre os professores e o diretor", afirma Gilmara Marques de Souza, vice-diretora da Escola Municipal Manoel Salvador de Oliveira, localizada em Itabirito, Minas Gerais. O vice-diretor é àquele responsável por auxiliar o diretor em suas atribuições, contribuindo para a gestão administrativa e pedagógica e compartilhando as tarefas. Ainda assim, é importante ressaltar diretores e vice-diretores podem se dividir de acordo com os pontos fortes de cada um.


Coordenador pedagógico, o guardião da aprendizagem
Compreender os pontos fortes e fracos que a escola tem, garantir o PPP, cuidar da formação continuada da equipe e acompanhar os resultados de aprendizagem da escola são algumas das funções que o coordenador deve desenvolver no ambiente escolar. "No dia a dia temos múltiplos papéis. A função do coordenador é articular a proposta curricular com os professores e de ser mediador entre as demandas dos alunos, das famílias, dos diretores e dos professores", explica Anderson Weber, coordenador pedagógico do Colégio Mater Amabilis, localizado em Guarulhos, São Paulo.


Orientador educacional, o mediador
"Mediação" é a palavra-chave que a coordenadora Márcia usa para definir o trabalho que faz de orientadora educacional. Ela explica que o orientador pode e deve ajudar na articulação entre alunos, professores e pais. "Acredito que o orientador pela qualidade diferenciada de seu olhar pode contribuir e proporcionar o desenvolvimento e o desempenho de todos os que estão envolvidos nos processos educacionais-pedagógicos", explica.


Diferentemente de professores e outros profissionais que desempenham seu trabalho focado no currículo disciplinar, o orientador busca entender o comportamento dos alunos em uma perspectiva mais ampla. Ele também deve trabalhar em conjunto com outros profissionais no ambiente escolar e da comunidade buscando construir, a partir da escuta e diálogo, a formação dos alunos. Segundo a orientadora, projetos desenvolvidos dentro e fora de sala de aula também é parte essencial do trabalho deste profissional.