quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Como valorizar a ação do aluno muda a aula para melhor

Professores contam como aulas que valorizam a aprendizagem ativa e investigação ajudam na construção do conhecimento
Por: Beatriz Vichessi


Construir conhecimento é mais que transmitir informações. Investir tempo para refletir sobre a própria prática e reaprender a lecionar é uma iniciativa para realmente fazer a turma se interessar pelas aulas e aprender os conteúdos. “É uma inversão de eixo: o foco passa a ser na construção do conhecimento por meio da investigação. Os alunos são desafiados a levantar hipóteses, construir o conceito. E ao final, o professor faz a sistematização. Assim, eles se tornam protagonistas”, diz Lilian Bacich, assessora pedagógica do Time de Autores NOVA ESCOLA de Ciências.  

Depois de participar da Virada de Autores, Denise Chiconato, professora de Ciências da EE Victor Maida, em Ibitinga (SP), mudou o modo de lecionar. “Aprendi a valorizar a ação dos alunos, deixá-los pesquisar o conteúdo trabalhado”, diz. Em um curso na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, Denise também aprendeu a trabalhar com a metodologia STEM (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, que incentiva a interligação dessas áreas em prol da aprendizagem interdisciplinar e com foco na aplicação prática do aprendizado).

“Logo que voltei ao Brasil já coloquei tudo em prática. Motivei os alunos a trabalhar com protótipos. Fizemos um coletor de água da chuva com materiais descartáveis. Antes, eles pesquisaram na internet informações a respeito”, conta.

       Foto: Getty Images

Estranhamento
Às vezes, a mudança de postura do docente, que passa a valorizar a aprendizagem ativa, mais mão na massa e colocando os estudantes em destaque, causa certo estranhamento. Eles ficam intrigados: por que precisam levantar hipóteses? Por que o professor simplesmente não explica o conteúdo, dá as respostas corretas e pronto? Esse desconforto é saudável e, na maioria das vezes, passageiro. Fabio Henrique Boreli, professor de Ciências EE Dom Barreto, em Campinas (SP), conta que quando começou a trabalhar com metodologias ativas de ensino, os alunos torceram o nariz, mas ele persistiu. “Ao final da aula, eles falaram ter adorado o novo jeito de aprender, que o conteúdo agora fazia sentido para eles”, diz.
Um aluno chamou atenção de Fabio. Depois de passar um semestre indiferente, o garoto mudou de postura, começou a participar, ajudar os colegas e a se divertir nas aulas. “A relação dele com a disciplina mudou. E a minha também depois que aprendi, na Virada de Autores, a trabalhar com planos de aula que valorizam o pensar do aluno”, diz.
André Geraldo Cursino, professor do primeiro ciclo do Ensino Fundamental na EM Padre Zezinho, em Pindamonhangaba (SP), também inverteu o eixo das aulas, deixando os alunos ficarem no centro das atenções, trabalhando de modo colaborativo na resolução de problemas e com atividades que têm relação com o cotidiano. “É um desafio repensar a maneira de ensinar e aprender Matemática, uma disciplina tradicionalmente trabalhada de um jeito metódico. Eu me questionava sobre como manter a turma interessada e ao mesmo tempo promover um esforço produtivo por parte das crianças, de modo a transformar informação em conhecimento”.
A mudança nas aulas de André provocou tanto interesse da turma em aprender matemática que os alunos sempre cobram que ele trabalhe com planos de aula da Nova Escola. O professor também foi convidado a compartilhar sua experiência em sala de aula com colegas da rede de Aparecida, apresentando um curso de formação sobre os planos de aula alinhados à Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Tecnologia
Dar espaço à tecnologia em prol da aprendizagem é outro ponto importante para quem está em busca de aperfeiçoar o jeito de ensinar, colocando os alunos em posição protagonista. “Recuperei a atenção e o interesse da classe durante as aulas depois que aprendi a usar o Google de forma mais eficiente durante a Virada de Autores”, conta Tarcísio Nunes Filgueiras Júnior, instrutor do SENAI/SC, em Brusque (SC).
Uma das utilidades que ele cita é o trabalho e compartilhamento de informações e tarefa em tempo real. Segundo Tarcísio, uma atividade interessante que pode ser proposta aos alunos é fazer uma viagem virtual. “A turma escolhe uma cidade destino para viajar por, pelo menos, três dias. Com o Google Maps eles mapeiam o trajeto, medem as distâncias, caminhos, pontos de paradas, com muita riqueza de detalhes”, sugere o professor. Segundo ele, também é interessante que a viagem seja feita em grupo, assim os alunos precisam fazer uma planilha de gastos com alimentação, hospedagem e transporte. “Em um documento compartilhado devem descrever todo o planejamento, colocar prints do Google Maps, mostrando hotéis e restaurantes que vão frequentar e registrar curiosidades das cidades pelo caminho”, explica.
Ao rever a prática e investir em novidades, como o uso do Google, alunos e professores ganham. Lilian explica que essa mudança é um benefício para a formação deles, que têm a oportunidade de olhar criticamente para o que aprenderam na graduação, questionar se a teoria realmente funciona.
Ao transformar o momento do ensino, valorizando o protagonismo da classe, o professor passa a ficar mais alinhado com a BNCC. Lilian ressalta que o documento chama atenção para competências gerais de argumentação, empatia, pensamento crítico e autoconhecimento. “E isso tem tudo a ver com aprendizagem ativa”, diz ela.

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